
Morávamos em uma bela casa no morro do Sumaré no Rio de Janeiro.
Adquirida com certo sacrifício, a casa era composta de três pavimentos, sendo o último uma cobertura, onde minha filhinha de seis anos gostava de brincar.
Uma tarde, o caveirão da polícia militar se posicionou em frente à favela e começaram os disparos. Minha filha e minha esposa ouviram um estrondo ecoando dentro de casa, como se uma bomba houvesse sido alí lançada. Elas não se atreveram a subir para ver o que se tratava.
Quando cheguei do trabalho à noite, fui verificar, e deparei-me com vários furos de projéteis no telhado de alumínio e um rombo enorme no muro. Uma mesa de plástico, algumas cadeiras e a lata de binquedos da minha filha perfuradas.
Simplesmente a polícia metralhou a minha casa. Lá não tinha bandidos e era impossível eles estarem escondidos em algum lugar próximo, uma vez que não havia lugar onde pudessem se esconder.
Fiquei convencido de que a polícia realmente entra na favela atirando a esmo, como já ouvia muitas pessoas relatarem. A partir deste dia não tive mais nenhuma dúvida quanto a este fato.
Minha filha não quis mais brincar na cobertura, seu local preferido.
Tapei o buraco no muro, desfiz-me da mesa e das cadeiras, joguei a lata de brinquedos no lixo e tratei de vender aquela casa e mudar de residência.
Consegui sair do morro, lugar de pessoas batalhadoras que só querem - a exemplo das outras pessoas que moram no asfalto - viver em paz e não ser tratadas como marginais.
Esta polícia que deveria protegê-los, causa tanto ou mais terror que os próprios traficantes que os mantém como reféns.
Compete à polícia militar a segurança ostensiva, que tem por objetivo a preservação da ordem publica e, pois, as medidas preventivas que em sua prudência julga necessário para evitar o dano ou perigo para as pessoas.
Quando a autoridade que deveria garantir a segurança dos cidadãos se comporta igual ou pior que os bandidos, a quem esses devem recorrer?
As polícias, contrariamente ao que muita gente imagina, não existem para matar. A Constituição Federal veda a pena de morte.
Assim sendo, é contraditório, tendo em conta as suas verdadeiras atribuições, uma força policial usar uma caveira com símbolo.
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/2013-04-03/retirada-da-caveira-como-simbolo-do-bope-gera-crise-na-pm-da-paraiba.html